Um Tiro a Mais É Só Ilusão

Eu já pensei que o carnaval era o ponto. Trabalhei em uma empresa de jogos onde ‘vencer’ significava medir picos de dopamina — não alegria. As máquinas sussurram: cada giro era como um batuque que você não conseguia parar. Vi os jogadores pressionarem ‘mais uma tentativa’ às 2h, olhos vidrados de exaustão, enquanto a tela piscava com luzes esquecidas. Isso não é sorte. É o ritmo do controle. No subterrâneo do Rio, onde o escapismo digital veste fino como passo de samba — cada bilhete não é chance, mas um eco do que você deixou para trás. Eu me lembro de um jogador que comprou três cartões e jogou até a meia-noite. Eles não venceram. Eles só continuaram girando — porque a máquina aprendeu seu nome. Vendemos esperança como um algoritmo. O RNG não mente — mas seu cérebro sim. Cada ‘cartão de bônus’ é uma promessa envolta em serotonina, cada ‘linha duplicada’ é uma canção cantada no silêncio, cada ‘status VIP’ é um fantasma dançando na sua caixa às 3:17 da manhã. Você não precisa de mais bilhetes. Você precisa saber quando parar. O carnaval não acaba quando a música para — acaba quando você para.